Projeto Recicla Bauru



A falta de uma estrutura adequada para o destino do lixo e a ausência de políticas públicas que incentivem a reciclagem são problemas antigos que afetam a maioria das cidades brasileiras. Atualmente apenas 2 % de todo lixo gerado no país é reciclado ou reutilizado, e esta situação ainda pode piorar! Devido à expansão econômica e o relativo aumento do poder aquisitivo dos brasileiros, percebemos também um aumento no consumo de produtos industrializados. Estes produtos possuem embalagens pesadas como latas e garrafas, aumentando assim a quantidade de lixo gerada por cada brasileiro, que hoje está acima de 5 kg por dia.

O cenário bauruense não é muito diferente, atualmente apenas 5% do lixo reciclável produzido na cidade é destinado corretamente. Bauru possui apenas uma cooperativa de lixo, que não consegue atender as necessidades do município. Ou seja, a realidade é que nem o lixo doméstico que é separado pela população e coletado pela prefeitura consegue ser efetivamente reciclado ou reutilizado.

Este problema municipal e suas implicações não são novidades no nosso país, a questão central deste sistema é a forma como podemos encará-lo e o que pode ser feito para melhorar esta situação. Analisando todo este ambiente o Grupo AGR iniciou um projeto de reestruturação da reciclagem da cidade, partindo do princípio de que não precisamos de grandes investimentos ou aumento de verbas municipais destinadas a este fim. A solução muitas vezes é reorganizar a estrutura administrativa e a logística do município, que pode ser solucionada através de pequenas iniciativas provenientes da população e do setor público. Os projetos devem ser práticos, visando de forma estratégica atender às necessidades da cidade.

Este projeto é uma idéia antiga do grupo e foi estimulado através do Coletivo Ativista, grupo que busca capacitação de jovens para a incidência política e social de diferentes cidades do país. Este coletivo é liderado pela Amarribo JR(Ribeirão Bonito), Rede Sou de Atitude(Belo Horizonte) e Oficina de Imagens(Natal). Neste coletivo as ONGs e instituições participantes buscam incidir de forma participativa para que possam desenvolver ações que estimulem o desenvolvimento de sua cidade. Já no caso de Bauru, o Grupo AGR optou por trabalhar com a questão ambiental e os problemas com a reciclagem do lixo.

O projeto tem como objetivo contribuir para a melhoria do sistema de reciclagem de Bauru. Desta forma dividimos as ações em algumas etapas iniciais: o levantamento de dados e informações do município, a mobilização e a conscientização da população bauruense sobre o tema e a criação de novas cooperativas e pontos de reciclagem. Em paralelo a essas etapas, o grupo busca a criação de ações que legitimem e perpetuem a iniciativa do projeto, que podem ser asseguradas pela criação de uma política pública, lei municipal, novas diretrizes do executivo, entre outros.

Atualmente o grupo está levantando os dados sociais e políticos da cidade e mapeando os galpões, catadores e pontos de coleta existentes em Bauru. Esta fase é primordial para que o grupo possa alinhar seus objetivos com a realidade e as necessidades do município visando potencializar a segunda fase do projeto que busca o contato, a capacitação e a criação de novas cooperativas e associações de catadores.

Além da criação de novos empregos e a possibilidade de incremento na renda de populações carentes, buscamos que os cidadãos bauruenses conscientizem-se e compartilhem sobre a questão do lixo, estimulando assim os munícipes a participarem e se envolverem em outras questões da cidade sejam no âmbito social, político ou ambiental.

Quer apoiar essa iniciativa?
Participe do grupo de discussão RECICLA - BAURU no facebook ou apoie nossa proposta no Cidade Democrática.


Ítalo Carvalho
Diretoria de Projetos

O brasileiro come veneno

O Brasil é atualmente o país que mais consome agrotóxico no mundo, o que significa cerca de 5,2 litros a cada ano por habitante! A triste estatística traz à tona um tema que pode não ser novo, mas que permanece obscuro para a maioria da população.



É com o intuito de debater a questão do uso de agrotóxicos na agricultura brasileira e do envenenamento a partir dos alimentos, que o documentarista Silvio Tendler lança “O veneno está na mesa”. O filme é fruto da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, da qual fazem parte diversas entidades e movimentos sociais, que denunciam o atual modelo de desenvolvimento do país.


Em entrevista ao jornal Brasil de Fato, Tendler afirma: “o mundo está sendo completamente intoxicado por uma indústria absolutamente desnecessária e gananciosa, cujo único objetivo realmente é ganhar dinheiro. Quer dizer, não tem nenhum sentido para a humanidade que justifique isso que está se fazendo com os seres humanos e a própria terra. A partir daí resolvi trabalhar essa questão. (...) Por que se plantou no Brasil esse modelo que expulsa as pessoas da terra para concentrar a propriedade rural em poucas mãos, esse modelo de desenvolvimento, todo ele mecanizado, industrializado, desempregando mão de obra para que algumas pessoas tenham um lucro absurdo? E tudo está vinculado à exploração predatória da terra. Por que nós temos que desenvolver o mundo, a terra, o Brasil em função do lucro e não dos direitos do homem e da natureza? Essas são as questões que quero discutir.”



Sabemos que esse modelo perverso - monocultor extensivo e concentrador de terras – firmou-se desde os primórdios da história do país e tem sido reafirmado pelas políticas de desenvolvimento em curso. Um exemplo é a implantação, em meados de 1970, do Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, que exige a compra obrigatória de agrotóxicos para conceder crédito aos agricultores. Ou seja, o banco só financia a agricultura com agrotóxico, pois entende que seu uso é garantia de produtividade. No filme, o camponês Adonai relata o dia em que o inspetor do banco vai à plantação verificar se ele comprou semente transgênica, herbicida, fertilizantes, etc.



A margem de danos é enorme. A utilização de agrotóxicos traz graves problemas para a saúde do trabalhador rural, que fica exposto a situações de risco e sujeito à contaminação e ao adoecimento pelo contato com os produtos químicos. Como são os casos, mostrados no filme, do Vanderlei, que depois de anos trabalhando no agronegócio faleceu por conta de uma hepatopatia grave e de uma mulher de 32 anos que está ficando totalmente paralítica por conta do trabalho dela com agrotóxico na lavoura do fumo.



Também são contaminados aqueles que consomem os produtos provenientes desse tipo de cultivo. O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), criado pela Anvisa em 2001, detecta a presença de agrotóxicos proibidos em diversas culturas analisadas, que constituem produtos que chegam diretamente a mesa do consumidor. Ou seja, estamos comendo veneno sem nos darmos conta disso. O trigo, por exemplo, recebe cargas enormes de pulverizador e chega ao nosso prato através do macarrão, da pizza, do pão.



O meio ambiente também é seriamente prejudicado. O agrotóxico pode permanecer no ambiente por longos períodos, contaminando ecossistemas inteiros podendo contaminar a qualidade do ar, da água e do solo. É um ciclo vicioso: o uso de agrotóxicos afeta a produtividade do solo, que afeta a qualidade das plantações, tornando-as mais vulneráveis às pragas e doenças, fazendo com que se utilizem fertilizantes químicos e mais agrotóxicos.



Diante de tudo que foi exposto, Tendler é categórico: “Acho que está na hora de mostrar que muitas vidas não seriam sacrificadas se a gente partisse para um modelo de agricultura mais humano, mais baseado nos insumos naturais, no manejo da terra, ao invés de intoxicar com veneno os rios, os lagos, os açudes, as pessoas, as crianças que vivem em volta, entendeu?” . Entendemos.


Mas até quando essas questõs vão ser sistematicamente ignoradas? É imprescindível lembrar-nos de que existe alternativa e que a produção orgânica é tecnicamente viável para alimentar toda a população do país. Além disso, o argumento econômico, que se baseia no baixo custo de produção dos produtos com agrotóxico é fragmentado, visto que não leva em conta os custos para o ambiente e para a saúde pública. Até quando vamos aceitar a tal "produção barata" em nome do câncer, de intoxicações agudas e de danos para todo o meio ambiente?


O problema é grave, mas informações a respeito são omitidas para grande parte da população, que têm sua saúde prejudicada em nome dos lucros das grandes empresas. Resta saber qual o papel dos governos e dos meios de comunicação para dar visibilidade a essas questões. Vamos continuar engolindo veneno como se fosse mel?



Taís Capelini

Diretoria de Administração

Novos desafios da Comunicação Empresarial

No dia 1º de Agosto iniciou-se o curso de Comunicação Empresarial realizado pelo CIEE em parceria com a ABERJE. A primeira aula, ministrada por Paulo Nassar - diretor geral da ABERJE e Prof. Dr. da ECA-USP – abordou a temática da Comunicação Empresarial e o novo papel do comunicador dentro deste contexto.

Dentre os assuntos expostos, o professor defendeu, principalmente, a importância de o comunicador ter conhecimento em diversas áreas. Este profissional deve ser verdadeiramente culto, a fim de ter uma visão ampla do mundo e saber analisar os cenários em que vivemos. Mais do que isso, o comunicador deve ser um educomunicador – educando a organização como um todo para a comunicação.

Para reflexão, Paulo Nassar deu início em sua palestra levantando a questão: o que eu faço de genuíno como comunicador? O que fazemos para gerar valor na empresa em que trabalhamos? E então respondeu: “são as narrativas que construímos”. As narrativas que o profissional de comunicação estrutura de forma distinta para atingir diferentes públicos com a mensagem adequada.

Outros tópicos discutidos foram os novos desafios da Comunicação Empresarial. A visão da organização no centro do social, com os diversos públicos ligados a ela e separados em “caixinhas”, é enganosa. Hoje fala-se nos multi-papéis dos públicos, já que esses transitam na sociedade. Entre outros exemplos, citou-se que os funcionários também são acionistas e comunidade.

Além disso, como já é habitualmente discutido pelos profissionais de comunicação, sabemos que há novos produtores de conteúdo, não limitados à grande imprensa. Paulo Nassar fala dos moveholders, no lugar dos conhecidos stakeholders de uma organização. Em um texto publicado pelo professor, ele explica: “O novo social é formado por moveholders, as partes interessadas que se agrupam em redes sociais, blogs, flash mobs, entre formas de comunicação digital e híbridas (digitais e analógicas), e que não são apreendidas pelas velhas segmentações de relações públicas, como as dos stakeholders, conceito definido por R.Edward Freeman, no século passado”.

Abordando as temáticas com maestria, Nassar trouxe acima de tudo a reflexão sobre o nosso papel no contexto atual da comunicação empresarial. Precisamos enxergar o processo de comunicação como um todo, valorizando no relacionamento e na comunicação os ambientes comportamentais, econômicos, históricos, políticos, sociais e tecnológicos do ambiente de trabalho. Sobre as mensagens produzidas, ele destacou novamente a comunicação pela educação – devemos levantar os questionamentos: a informação chegou; foi entendida; foi aceita e, principalmente, foi implantada? A partir destes aspectos (aquisição, aceitação, interpretação e implementação) podemos saber se a comunicação teve transcendência, uma vez que somente assim poderá ser excelente.

Parabéns ao professor doutor Paulo Nassar pela palestra de abertura do curso de Comunicação Empresarial. Acredito que os presentes tiveram uma manhã muito produtiva nesse evento. Para os que não tiveram a oportunidade de participar, o curso terá continuidade no próximo dia 15 de agosto, com o tema Endomarketing. A aula será ministrada por Saul Bekin, consultor empresarial e professor do MBA Aberje.

Taís Machado
Diretoria de Comunicação