Economia a favor do meio ambiente

O início da reciclagem no Brasil não possui uma data bem definida. Alguns relatos demonstram que foi por volta da década de 50, com os “garrafeiros”, descendentes de espanhóis que recolhiam garrafas de vidro para serem reutilizadas. Alguns dados mais concretos datam de 1985; nesta época, moradores da cidade de Niterói iniciaram um processo de separação e destinação correta para o lixo, apoiados também pela Universidade Federal Fluminense e uma entidade do governo alemão. Já em 1989 houve uma das principais campanhas de conscientização e reciclagem do lixo. Tendo início em Curitiba, a campanha denominada “Lixo Que Não É Lixo" tinha ações de educação ambiental nas escolas e a confecção de materiais adequados para a coleta seletiva.

Várias outras iniciativas foram nascendo pelo país a partir da década de 90. Elas demonstravam a importância e a necessidade da reciclagem de materiais no Brasil. A maioria dos projetos foi iniciado pelo caráter financeiro - a geração de renda e o aumento do lucro deste tipo de serviço. Em um segundo momento, algumas associações e entidades sem fins lucrativos perceberam a importância social, política e ambiental desta ação, aumentando assim a quantidade de projetos e iniciativas sociais no setor. Apesar do constante crescimento deste cenário, acompanhamos de fato um processo lento de reformulação e profissionalização da reciclagem no país. Este fato é evidenciado pela falta de estrutura da grande maioria das cidades brasileiras, que ainda lidam com o lixo de uma forma rudimentar e pouco produtiva. Esta situação ainda está sendo tratada apenas como um fator de geração de renda para comunidades carentes, dificultando a profissionalização deste setor.

Infelizmente neste cenário, sem grandes incentivos privados, a situação mudaria pouco. Nestes últimos anos, verificamos com otimismo, o início da mudança deste panorama. Fatores que foram impulsionados principalmente por questões econômicas, viabilizando assim o desenvolvimento do processo de reciclagem em todo país. O valor do alumínio, por exemplo, está cada vez mais caro, e o Brasil esta importando e produzindo menos deste metal. E qual a alternativa? A reciclagem, é claro! Com a profissionalização e o aprimoramento das técnicas de reutilização de materiais, a reciclagem se tornou barata e muito mais viável do que a importação e a extração mineral.

Desta forma, por questões financeiras, ganharemos nestes próximos anos um incremento na indústria de materiais recicláveis. É a economia agindo ao nosso favor. Com o crescimento deste setor, poderemos estimular e profissionalizar certas cooperativas e catadores, pois com a valorização da reciclagem, a tendência é que os produtos também sejam mais valorizados. Todo este otimismo do setor contribuirá também para o aumento da renda de cooperados e catadores. É claro que isto não vai resolver o problema destas famílias, que passam por situações de extrema pobreza. Porém, é um estimulo para que programas de ONGs e associações sem fins lucrativos consigam desenvolver com mais facilidade projetos de inserção social, profissionalização e educação ambiental para estes trabalhadores.

A boa notícia também é que a reciclagem está sendo encarada não como concorrente das empresas que produzem certo tipo de material. Com o mercado brasileiro aquecido, existe espaço para todos, e as empresas têm a consciência que o material reciclável possui prazo de validade e não poder ser reaproveitado por muito tempo, como relata o professor Tácio Mauro Campos: “Existe um tempo para usar os materiais reciclados, não é perpétuo. No caso do papel, a fibra perde a qualidade e vira lixo mesmo. Nunca ouvi casos de boicote para fazer reciclagem, pelo contrário, as empresas também ganham com essa atitude”.

Dessa forma, com o aumento do apoio de empresas privadas devido ao crescimento da economia, e também pela valorização do setor através de entidades públicas, constatamos de forma sólida o crescimento da profissionalização da reciclagem no país. Estes fatores contribuem também para a superação do relativo período que passamos de “moda verde” para um período de consolidação do setor de reciclagem. Este cenário também promove a reafirmação destes trabalhadores como profissão estratégica na economia e no crescimento do país, transpondo a idéia ultrapassada de que o setor serve apenas para que moradores de rua ou desempregados tenham alguma renda.

Ítalo de Pádua
Diretoria de Projetos

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