Para Além do Consumismo

Muitos acreditam que seu papel como consumidor está restrito ao ato da compra, e que a escolha por produtos orgânicos torna seu consumo sustentável. O fato é que atitudes plenamente sustentáveis vão além disso.

É preciso compreender a importância do ciclo produtivo ao qual todo produto se origina e, ao fim de seu uso, deve retornar. Esse processo permite a diminuição e a prevenção da exploração dos recursos naturais, sendo a reciclagem um instrumento essencial na volta dos materiais que jogamos fora ao ciclo produtivo.

A busca pela compreensão deste ciclo de cada coisa começa com simples questionamentos: De onde vêm as coisas e para onde vão? Você já se perguntou por que alguns produtos custam tão pouco? Se você não está pagando um preço equivalente a toda produção desse bem (projeto, tecnologia, fabricação, transporte, armazenamento), alguém está pagando por você, certo?! Seja através de trabalho escravo, salários miseráveis, exploração ilegal de recursos, etc. Isto é, quando saímos em busca dos melhores preços não levamos em conta fatores que estão por trás dessa escolha. Um celular novo ou até mesmo uma blusa nova podem esconder condições insalubres de trabalho de pessoas do outro lado do mundo ou implicar um enorme dano ao meio ambiente.

Há anos inúmeras empresas de grande porte são acusadas do uso de trabalho escravo, como foi com a Nike dez anos atrás e com a Zara no ano passado. Também outras confecções estiveram recentemente envolvidas em escândalos de trabalho escravo, falta de proteção adequada ao trabalhador ou outras irregularidades como em relação à preservação do meio ambiente, como a Collins, Pernambucanas, C&A, Marisa e 775. Na Europa, devido ao envolvimento em questões trabalhistas ilegais, a Danone e a Néstle foram boicotadas.

A fim de controlar toda a cadeia produtiva dos produtos, criou-se a World Trade Fair Organization (WFTO) – Organização do Comércio Justo. A WTFO é o órgão representativo global de mais de 450 membros comprometidos a 100% Comércio Justo. A Organização é a autêntica voz do comércio equitativo e um guardião de valores de Comércio Justo. Opera em 75 países em 5 regiões, África, Ásia, Europa, América Latina e América do Norte e Orla do Pacífico, com placas de eleitos regionais e globais , para criar o acesso ao mercado por meio da política, advocacia, campanhas de marketing e monitoramento. É a única rede global cujos membros representam a cadeia justa de produção para venda. O objetivo da WFTO é permitir que os pequenos produtores e comunidades melhorem seus meios de subsistência através do comércio justo sustentável. Para saber mais sobre a história da WFTO e o movimento do Comércio Justo, leia Sixty Years of Trade Fair.

Ouça a uma entrevista da rádio CBN com Ana Asti, presidente da Organização Mundial de Comércio Justo (WFTO) na América Latina, sobre o uso de trabalho escravo na cadeia produtiva de grandes marcas, em especial o caso Zara.

Ademais, o real valor das coisas muitas vezes não se traduz no preço da etiqueta, uma vez que o custo por trás dos produtos que compramos pode ser bem maior do que possamos imaginar. Para ilustrar essa afirmação, seguem informações sobre a produção de quatro elementos básicos do cotidiano ocidental:


CALÇA JEANS

Até aposentar de vez a sua calça, você terá usado 5 460 litros de água – se ela for lavada uma vez por semana, o equivalente a 83 banhos de 7 minutos cada um.

11 mil litros de água: é a quantidade do líquido que é usado no processo de produção de UM par de jeans – o equivalente a capacidade de um caminhão pipa!


Utilizamos 21 litros de água a cada lavagem de uma calça jeans. São 4 vezes a quantidade de água que uma pessoa em um país desenvolvido poderia usar por um dia inteiro para beber, limpar, comer e lavar.
32,5 kg de CO2: é o equivalente ao carbono seqüestrado por seis árvores por ano.

Para fazer sua parte:
-Lave 1 vez a cada 2 semanas
-Lave em água fria
-Seque no varal
-Doe quando não usar mais


CELULAR

A ONG Call+Response, em parceria com o Departamento de Estado para Monitoramento e Combate ao Tráfico de Pessoas dos EUA, criou um site e um aplicativo para celulares que mostra quantos trabalhadores escravos trabalham para você, com base nos produtos eletrônicos que você consome e compra. O site possui um banco de dados com informações sobre mais 400 produtos divididos em suas matérias-primas. Nesse banco, cada produto possui uma pontuação – e o número de trabalhadores escravos utilizados.
Nesse site, para que o cálculo seja realizado, o internauta deve responder a 11 questões a respeito do sexo, idade, hábitos alimentares, moradia, consumo de produtos, esportes praticados, roupas, entre outros, tudo de maneira interativa.


CAFÉ
Algumas estimativas sugerem que cerca de 3,4 mil xícaras de café são consumidas a cada segundo do dia em todo o mundo.
Para cada xícara de café, 140 litros de água são consumidos direta e indiretamente em toda a cadeia produtiva.

O café é a segunda atividade rural que mais emprega à margem da legislação, só perdendo para a pecuária, segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Menos de 10% dos trabalhadores do café têm carteira assinada.

GARRAFA DE ÁGUA
São necessários 3 litros de água para produzir uma garrafa de 1 litro de água.
No Brasil são produzidas 550 mil toneladas de garrafas PET por ano, das quais boa parte é descartada na natureza. Sendo que 80% das garrafas acabam em aterros sanitários ou são incineradas.
100 toneladas de plástico reciclado evitam a extração de 1 tonelada de petróleo.
Quando bebemos água na garrafinha, pagamos cerca de 2 mil vezes mais do que se consumíssemos pela torneira. Segundo a Bottled Water Blues, 90% do custo dessa água está na fabricação de rótulo, tampa e garrafa, que usam recursos como petróleo.
Apenas na etapa de produção, uma garrafa PET de 50 gramas acarreta um impacto ambiental de emissões atmosféricas de CO2 e gases equivalentes da ordem de 18 gramas.
(Informações retiradas da Edição Especial da Revista Vida Simples, dezembro 2011)


Há um novo jeito de pensar baseado na sustentabilidade, equidade, química verde, zero resíduos, produção em ciclo fechado e economias locais vivas, como sugere o The Story of Stuff Project. O ideal é que todos nós reflitamos a respeito de nossos hábitos de consumo, ganhemos consciência ecológica e passemos a adquirir somente o que for necessário para suprir nossas necessidades básicas de sobrevivência. Assim, evitaríamos o consumo de produtos supérfluos e o desperdício, contribuindo para o meio ambiente. Além disso, para que nos tornemos verdadeiros Consumidores Verdes, devemos verificar a procedência daquilo que consumimos para que não nos tornemos um Verde Otário.


Clara Luise
Diretoria de Comunicação

0 comentários:

:a: :b: :c: :d: :e: :f: :g: :h: :i: :j: :k: :l: :m: :n:

Postar um comentário